Por Flávia Girardi – Quando minha filha era pequenininha, dos 2 aos 5 anos, na primeira escola em que estudou, ela dava um jeito de escapar da sala de aula para ir para à diretoria. Lá ela ficava conversando com a Dirce, a diretora. Desenhava, “ajudava” na administração. Ela gostava tanto dela e de estar ali, que a maior pelúcia que tinha (uma sapa gigante), recebeu o nome da diretora. A Dirce mora com a gente, na nossa casa e no nosso coração.
Acho interessante essa história, porque quando eu era criança, ir para a diretoria era algo que dava medo. Ninguém queria nem ouvir falar. Aquele lugar era sinal de advertência, bronca e suspensão. Era só ameaçar ir para a diretoria, que todo mundo ficava quietinho. Que bom que os tempos mudaram.
Eu sempre fui boa aluna. As matérias que eu não gostava eu decorava para tirar nota boa na prova. Lembro de um dia em que uma professora jurou que eu tinha colado, porque coloquei na prova respostas idênticas as do livro. Era para passar logo de ano e acabar com aquele sofrimento! Já as matérias que eu gostava, literatura, história, filosofia… tenho na memória até hoje, porque o que nos toca de verdade, a gente nunca esquece.
Às vezes fico vendo a Alice e relembrando de mim, quando pequena. Penso que a maternidade é a maior terapia que existe. A gente abre umas gavetinhas que nem lembrava que existiam. Me vejo muitas vezes teimando com ela por algo que faz – ou deixa de fazer, mas na verdade, é para mim mesma o recado. Um dia fiquei nervosa por causa de uma roupa que ela queria pôr (e eu não queria que ela colocasse). Ela começou a chorar e eu a brigar, até que ela me disse: “Está errado mãe, você é a adulta, deveria me ajudar. Eu não sei lidar com o que estou sentindo”. E quem disse que eu sei? A gente está sempre aprendendo.
A verdade é que a gente cresce e não percebe muito isso. Minha avó, aos 80 e poucos anos, ia a lojas de 1,99 para comprar canequinhas coloridas. Um dia ela me disse: “Só sei que estou velha quando olho no espelho”. E é bem isso. Na verdade, somos todos crianças grandes. A diferença é que hoje – ainda bem! – Entendemos e respeitamos mais as crianças. As pequenas e a as grandes.
Passei outro dia em frente a um startup e na fachada estava escrito: “O normal não muda o mundo”. Respirei aliviada. Ainda bem que estamos diante do novo normal.
Flávia Girardi é jornalista e pedagoga. Também é autora do livro “A formiga que queria voar” da editora Ases da Literatura.
Contato: @flavia.girardi_